O sorteio dos grupos das seleções da Copa do Mundo deste ano no Catar, no Oriente Médio, atraiu a atenções de milhões nesta última sexta-feira, 1º de abril.

É o torneio mais controverso da história da Fifa, com questionamentos sobre como o Catar conquistou o direito de ser sede da Copa, o tratamento aos trabalhadores que estão construindo os estádios e se o país é um local adequado.

Tratamento dos trabalhadores

O Catar está construindo sete estádios para o torneio, um novo aeroporto, metrô e novas estradas.

A final será disputada em um estádio que também receberá outras nove partidas e também será o ponto central de uma nova cidade (Lusail, o mesmo nome do estádio), situada a 15 km de Doha, a capital do Catar.

Mas o governo local recebeu muitas críticas pelo tratamento aos 30 mil imigrantes que trabalham nos projetos da Copa.

Em 2016, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional acusou o Catar de usar trabalho forçado. Ele disse que muitos trabalhadores estavam vivendo em acomodações precárias, pagando altas taxas de recrutamento, com salários retidos e passaportes confiscados.

Desde 2017, sob pressão, o governo catariano apresentou medidas como proteção para o calor excessivo, limite de horas de trabalho e melhores condições nos acampamentos de trabalhadores.

No entanto, o grupo Human Rights Watch disse em um relatório de 2021 que os trabalhadores estrangeiros ainda sofriam “deduções salariais punitivas e ilegais”, bem como “meses de salários não pagos por longas horas de trabalho exaustivo”.

A Anistia Internacional também diz que, apesar da abolição do sistema de “kafala” – ou patrocínio -, que impedia a saída dos imigrantes de seus empregos sem o consentimento do empregador, a pressão ainda estava sendo exercida sobre os funcionários.

Um porta-voz do governo disse à BBC: “Foi feito um progresso significativo para assegurar que as reformas sejam efetivamente aplicadas”. Ele disse que o número de empresas que desrespeitam as regras “continuará a diminuir à medida que as medidas de fiscalização forem implementadas”.

Quantos trabalhadores morreram?

Em fevereiro de 2021, o jornal britânico The Guardian disse que 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que país conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo.

As mortes, relatadas pelas autoridades dos cinco países asiáticos, não foram categorizadas por ocupação, local ou trabalho. Mas o grupo de direitos trabalhistas FairSquare disse que era provável que muitas das mortes ocorreram durante projetos de infraestrutura do torneio.

O governo do Catar diz que os números são superestimados, porque incluem milhares de estrangeiros que morreram muitos anos depois de viver e trabalhar nas obras da Copa. Afirma ainda que muitos estariam trabalhando em empregos não relacionados à indústria da construção.

O Catar declarou que, entre 2014 e 2020, houve 37 mortes entre trabalhadores que construíram os estádios da Copa do Mundo. Mas diz que 34 dos óbitos “não estavam relacionados ao trabalho” – uma expressão que foi questionada por especialistas.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) diz que o Catar não contabilizou mortes súbitas entre os trabalhadores. A entidade afirma que o governo local registrou ataques cardíacos fatais e insuficiência respiratória causada por insolação como “causas naturais” em vez de “relacionadas ao trabalho”.

A OIT compilou seus próprios números de mortes a partir de dados de hospitais e serviços de ambulância no Catar relacionadas a todos os projetos da Copa do Mundo.

Segundo a contagem, 50 trabalhadores morreram e mais de 500 ficaram gravemente feridos no Catar somente em 2021. Outras 37.600 pessoas sofreram ferimentos leves a moderados.

As principais causas dessas mortes e ferimentos foram quedas de lugares altos, acidentes de trânsito e objetos que caíram sobre os trabalhadores.

Fonte: BBC News